A era digital avança e vão aparecendo novos desafios para as empresas, outras exigências. Já não basta fazer algumas alterações ou transformar-se, isso já devia estar a acontecer. Agora, é preciso mergulhar no ambiente líquido digital e criar novos paradigmas.
Mentalidade EaaS
Neste sentido, a unidade de Digital Business da Oracle EMEA e a consultora Evoca acabam de publicar e apresentar uma análise sobre a evolução dos modelos de negócio digital rumo ao que se denomina de Enterprise as a Service (EaaS), ou seja, que a empresa se torne um serviço à disposição do utilizador, oferecendo-lhe algo mais do que espera dela e surpreendendo-o.
Há muito tempo que a Oracle fomenta este tipo de ideias inovadoras e que partem do aproveitamento do Cloud Computing (Software as a Service) para impulsionar novas ideias dentro das organizações. Nas palavras de Leopoldo Boado, vice-presidente de tecnologia da Oracle para a Península Ibérica e o Benelux: “Creio que o momento de enormes possibilidades que estamos a viver é único e que os vencedores serão aqueles que saibam integrar-se nos novos ecossistemas.”
Boado também insiste que apenas os “unicórnios digitais” e as novas alianças entre empresas de diferentes naturezas conseguirão avançar num mundo em que a empresa tradicional não tem lugar. Estas joint-ventures, que são capazes de fintar as regras do jogo e descobrir com agilidade novas necessidades e nichos de mercado, constituem apenas 10% das empresas, o que significa que a oportunidade existe e está ao alcance de todos os que tenham uma visão diferente, como é o caso da mentalidade EaaS.
Neil Sholay, vice-presidente de Digital Business da Oracle EMEA, reitera esta tendência: “Os negócios que adotam uma mentalidade EaaS têm de conceber os seus negócios existentes e futuros como serviços flexíveis, personalizados e interconectáveis, e repensar de forma completa a sua cadeia de valor atual no contexto de um ecossistema de parceiros, tecnologias digitais e um mundo físico maior, mais aberto e mais extenso, que interage entre si alimentado pelo poder dos dados e da cloud.”
Estar aberto à mudança é fundamental, mas é também preciso aceitá-la e sentirmo-nos parte dela. Para Brian Solis, analista do Altimeter Group, estamos a viver uma época de darwinismo digital, em que a tecnologia e o seu impacto nos negócios e na sociedade é constante, mas com diferentes níveis de evolução e onde progredir é muito mais do que ter a tecnologia mais recente. “O futuro dos negócios baseia-se em partes iguais nas tecnologias inovadoras e disruptivas e na compreensão da dinâmica da psicologia, da filosofia, da sociologia e outras ciências sociais.” E, acima de tudo, não se iluda: “Se está à espera que alguém lhe diga o que fazer ou aonde ir, está no lado errado da inovação.”
O modelo EaaS
Pepe Cerezo, da agência Evoca, explica neste estudo em que consiste o modelo de Enterprise as a Service e que nasce da evolução dos modelos de Cloud Computing desde a sua utilização como servidores e espaço de armazenamento até representar um mundo de serviços mais personalizados, flexíveis e dinâmicos que abrem um novo universo de possibilidades.
Neste ecossistema, as empresas mais disruptivas sabem que o seu crescimento passa por transformar o seu negócio de comercialização de produtos num mais centrado nos serviços. Segundo Pepe Cerezo: “Uma forma de abordar esta mudança é perceber que, apesar de a empresa comercializar um produto, o que realmente importa é a função desse produto. Por isso, reinventar a função e dar-lhe o formato de um serviço é a base da mudança de modelo.”
As empresas podem iniciar a sua transformação em 3 áreas de atuação diferentes:
- Os processos internos: As empresas veem-se obrigadas a repensar os seus processos internos para serem mais eficazes em relação ao cliente, procurando ser mais eficientes e simplificando operações como a distribuição ou a manutenção.
- A relação com os clientes: A personalização das ofertas e a melhoria da fidelização parte do amplo conhecimento que se tem do utilizador graças à tecnologia.
- A prestação de novos serviços: Graças ao processamento de dados, as empresas podem oferecer novos serviços, sejam disruptivos ou tradicionais, que lhes permitam crescer.
Uma característica relevante da evolução e do auge dos modelos EaaS é a colaboração entre empresas de diferentes setores e a partir da qual nascem novas alianças e serviços que, há alguns anos, nem se anteviam.
Outra das grandes mudanças do modelo EaaS é a integração do mundo físico no mundo digital, entre o offline e o online, algo que até há pouco tempo parecia incompatível.
EaaS Wheel
Os paradigmas EaaS apoiam-se numa série de características ou possibilidades modulares que constituem a essência do EaaS. Algumas delas são: o custo variável mediante o pagamento por utilização dos serviços, os novos dispositivos, a personalização baseada no Big Data, o tempo real e a instantaneidade, os pagamentos adiantados e móveis, o machine learning, em que a máquina aprende com a sua própria experiência, e a tecnologia de desintermediação Blockchain.
A EaaS Wheel que se segue ressalta as características fundamentais destes negócios, ao mesmo tempo que mostra uma distribuição por setores industriais dos principais paradigmas.
Casos de sucesso
Convém destacar os diferentes casos que já surgiram com base no modelo EaaS. Estes casos são resultado tanto da atribuição de inteligência a produtos, redes ou ações (Smart Gird, Smart Meters, Learning Thermostats, Blockchain, Smart Contracts, etc. ), como do surgimento de novos conceitos ( Energy-as-a-Service, Assisted Living, etc.) ou da mudança a nível dos métodos de pagamento (Pay as you Drive, Usage-based Insurance, etc.).
No estudo da Oracle e da Evoca, são identificados 12 paradigmas e incluem-se exemplos dos mesmos:
1.- Smart Home, casas conectadas.
A Nest Labs, adquirida pela Google, propõe termóstatos conectados que utilizam sensores, algoritmos de aprendizagem e Cloud Computing.
Na Securitas Direct, desenvolveu-se uma plataforma de videovigilância com verificação de voz e imagem com capacidade de criar serviços vinculados à Internet das Coisas.
A British Gas foi responsável pela criação da plataforma HIVE de sensores inteligentes para diversas aplicações dentro do lar.
2.- Assisted living, assistência a pessoas idosas
No Hospital de la Fuenfría, há projetos de I+D para prevenir quedas por parte dos idosos e desenvolver aplicações de assistência remota e melhoria da qualidade de vida.
A Philips criou a plataforma digital HealthSuite, com base na nuvem, para prestar serviços de saúde e promover a independência de pessoas idosas.
3.- Pattern of life, estilo de vida saudável.
A Samsung lança uma iniciativa de eHealth que se apoia na pulseira modular SimBand e na plataforma na nuvem de Big Data SAMI (Samsung Arquitecture Multimodal Interactions), onde hardware e software se encontram abertos a terceiros para novos desenvolvimentos relacionados com a saúde.
Runkeeper, aplicação móvel que transforma o smartphone num personal trainer e que também monitoriza a saúde do utilizador, pretende desta forma integrar plataforma e serviços de terceiros.
4.- Logistic-as-a-Service, melhoria da entrega de produtos.
A Uber coloca em marcha a UberRUSH, uma solução para a entrega rápida de compras feitas em lojas online.
A UPS tem o sistema ORION, baseado no Big Data e na análise de dados, para calcular rotas de distribuição eficientes.
A Audi, a Amazon e a DHL unem-se para um projeto de entrega de compras online em viaturas, impulsionando assim o carro particular como plataforma de serviços. A DHL localiza o veículo com GPS e este permite o acesso temporário ao porta-bagagens para depositar a compra.
Na Shipbeat, desenvolveram uma API para integrar serviços de logística em lojas online, envolvendo as principais companhias de estafetas e resolvendo os problemas de entregas ou devoluções de lojas online médias e pequenas.
5.- Usage-based insurance, pagamento de seguros com base na utilização.
A Mapfre criou o YCAR, que utiliza dispositivos telemáticos para oferecer seguros cujas tarifas variam conforme o comportamento do condutor (pas-as-you-drive).
A Generalli permite o pagamento de seguros de acordo com as boas ou más práticas de condução, apoiado na tecnologia M2M, desenvolvida com a ajuda da Telefónica.
A Deloitte desenvolveu a plataforma tecnológica D-rive, dirigida às companhias de seguros, para que possam oferecer produtos usage-based insurance.
A InsurETH desenvolveu seguros inteligentes a partir de contratos inteligentes (smart contracts) e da tecnologia blockchain, com ligação a redes e dispositivos. Neste caso, executava-se o seguro automaticamente e sem intermediários caso ocorressem atrasos nos voos contratados. A deteção dos atrasos era feita através da ligação à informação pública dos voos.
6.- Embedded banking, transações bancárias quase invisíveis.
Fidor é um banco digital que se inclui no modelo de banking-as-a-service, que está concebido mais como loja de aplicações do que como um banco convencional.
Orange irrompe no mercado bancário e financeiro através do pagamento pelo telemóvel com o Orange Bank.
Alibaba disponibiliza entidades e serviços bancários e de banca eletrónica para pequenas e médias empresas e clientes rurais com o MYbank.
7.- Connectivity-as-a-service, estruturas de conexão como serviço.
A Legia Warszawa põe em marcha, em parceria com a Ericsson, soluções de small-cell-as-a-service num campo de futebol para oferecer serviços de conectividade e melhorar a experiência de utilizador.
8.- Transport & Car infotainment, os meios de transporte como terceiro espaço de consumo de serviços digitais.
A Immfly oferece sistemas de entretenimento multimédia para aviões direcionados para os dispositivos dos próprios clientes.
A Android Auto, a CarPlay e a Mirror Link criaram plataformas que facilitam a ligação entre o sistema multimédia do carro e os telemóveis.
9.- Carsharing, partilha de veículos.
A Car2go, filial do grupo Daimler AG, oferece serviços de partilha de carros em diversas cidades da Europa e dos Estados Unidos, com base na voga da tendência dos millenials de renunciar à propriedade.
10.- Energy-as-a-service, serviços personalizados do setor energético.
A Tesla, a partir do seu negócio de veículos elétricos, desenvolve baterias de armazenamento de energia solar para o lar e para empresas.
A Iberdrola desenvolve o projeto STAR (Sistema de Telegestão e Automatização da Rede), destinado a oferecer serviços personalizados aos seus clientes com base em contadores inteligentes e no Big Data.
A Lyse Energi gera novos serviços e novas fontes de receitas com base na automatização dos sistemas domésticos de controlo da climatização, ventilação ou iluminação.
A Verizon cria a plataforma Gird Wide Utility Solutions para oferecer às companhias que fornecem energia elétrica soluções inteligentes baseadas na utilização da cloud computing e da conectividade através de redes M2M.
11.- Demand forecasting, respostas a necessidades internas nas empresas.
O Otto Group propõe ferramentas de análise de Big Data para prever a procura, ajustar a produção e simplificar a logística.
A Inditex utiliza algoritmos e ferramentas de Big Data para prever a procura de produtos têxteis e para controlos de qualidade e de riscos internos.
A Ferrovial utiliza as tecnologias e os dados para a previsão da procura de autoestradas e para a gestão eficaz de ativos de transporte.
12.- Predictive maintenance, sistemas baseados no cálculo preditivo.
Compology, desenvolvimento de sistemas para a gestão e logística de resíduos, baseado na Internet das Coisas, no Big Data e no machine learning.
A BMW, graças à gestão de dados, em colaboração com a IBM, melhora o design dos veículos, potenciando assim as ações de manutenção preditiva.
A ThyssenKrupp, utiliza a comunicação inteligente com os seus elevadores e a autoaprendizagem dos seus sistemas para prevenir a manutenção e a reparação dos mesmos.