Com uma audiência cuja média de idades rondava os 20 anos, não foi de estranhar que se desfizessem em aplausos e ovações perante o surgimento de Pau García-Milà, um dos primeiros meninos-prodígio da inovação digital e em cujo lugar certamente muitos dos jovens presentes gostariam de estar. Pau teve a honra de apresentar a sessão de abertura da segunda jornada do FICOD 2015 (#FICOD15), onde os passos firmes e decididos de Jessica Federer, Head of Digital na Bayer, trilharam o palco, refletindo uma enorme carga comunicativa potenciada ainda mais pelos seus longos cabelos ruivos. Em menos de 20 segundos, tinha já conquistado este público tão difícil e concentrado a sua atenção. Mas Jessica tinha vindo falar da transformação digital nas empresas, algo já tão necessário e obrigatório como foi na sua altura a introdução da informática na contabilidade ou a redução do horário de trabalho.
“A transformação digital deve começar pelas pessoas”
Jessica Federer fez finca-pé na ideia de o processo de transformação já não ser uma opção para as companhias, mas sim algo de cumprimento obrigatório. “A empresa será digital ou não sobreviverá”, afirmou, assegurando também que esta mudança deve emanar diretamente do topo da pirâmide organizacional. Mas, além disso, explicou-nos que a mudança deve começar pelas pessoas para depois se estender aos processos e, posteriormente, às plataformas.
Outro ponto importante que aprendemos sobre a transformação é a importância da colaboração com outras empresas que sejam especialistas em cada uma das áreas digitais e, claro está, da formação específica das equipas de trabalho para que toda a mudança seja um êxito, algo mais importante do que a mera aquisição de tecnologia.
Uma pergunta interessante que surgiu no fórum foi a preocupação com a transformação adequada dos funcionários mais antigos, a priori mais complicada, mas Federer soube indicar que a mais-valia fundamental deste conjunto de profissionais é a sua experiência e que, apesar de precisarem de uma formação adequada para se adaptarem ao processo de mudança, esta experiência pode também enriquecer o dito processo.
Em relação ao ponto anterior, Jessica Federer afirmou que, na transformação de uma organização, é também importante localizar os funcionários que possam liderar a mudança e que ajudem os outros, os chamados agentes da mudança.
Por último, cabe destacar a mensagem que esta magnífica comunicadora pretende transmitir: a transformação não é uma ciência exata, ainda estamos todos a aprender sobre ela e é preciso correr riscos para falhar e voltar a tentar de outra forma mais certeira.
A transformação digital na Imprensa
A manhã deste segundo dia do FICOD continuou com o tema da transformação como estandarte, neste caso da Imprensa, um dos setores com maiores preocupações com a mudança de paradigma representada pelo mundo digital.
Apresentado e moderado por Rosalía Lloret, diretora de relações institucionais da Online Publishers Association Europe, o debate sobre “A Transformação da Imprensa” contou com a participação de Borja Bergareche, diretor de inovação da Vocento, Carmela Ríos, responsável de novas narrativas jornalísticas na Unidad Editorial, Ismael Nafría, diretor de inovação digital em La Vanguardia e María Maicas Royo, diretora de projetos da área digital no Grupo Zeta. Tratava-se sem dúvida de um bom elenco numa boa posição para analisar este tema, procurando as novas perspetivas que não se limitem a abordar a mudança digital, que já está totalmente implementada há muito tempo, como assinalava Borja Bergareche. O orador falou também da importância de dar valor a competidores como as redes sociais e os gigantes da Internet, uma vez que os media perderam a capacidade de inovação a favor deles. Deu como exemplo o caso de El Comercio de Gijón, que reforçou a equipa com seis pessoas apenas para cobrir os recentes atentados de Paris nas redes sociais, uma vez que era nelas que se concentrava a conversa.
Carmela Ríos, por sua vez, indicou a necessidade de envolver toda a equipa do meio no processo de mudança e assinalou que a segunda transformação necessária é a publicitária, tanto de modelos de negócio da imprensa como da oferta de marketing por parte das agências e das marcas.
Ismael Nafría também descreveu a importância da mudança de modelos de negócio, como a consideração dos modelos premium e freemium e a utilização de publicidade amigável que chegue ao utilizador de outra maneira e que não dependa da ativação ou não dos ad bloquers (bloqueadores de publicidade).
Relativamente a este ponto, Rosalía Lloret recordou a tendência dos media, sobretudo dos mais recentes, para a publicidade nativa como forma de se aproximarem do leitor.
María Maicas defendeu a questão do nível de qualidade que o utilizador procura e sabe reconhecer nas marcas de media tradicionais. Mas assinalou também o bom funcionamento das newsletters como meio de ligação e de oferta junto dos leitores.
O debate foi encerrado com a tendência para o consumo fragmentado em que o utilizador escolhe o que quer mas, acima de tudo, os participantes fizeram finca-pé na ideia de que a correta otimização dos media no contexto móvel é a prioridade imediata, já que é nestes suportes que os utilizadores gostam de ler as notícias. Neste sentido, foi interessante o comentário de Carmela Ríos de que o conteúdo dos dispositivos móveis está sempre vinculado a um aspeto económico, uma vez que, se incluirmos conteúdos que gastem demasiados megabytes do tarifário do utilizador, este terá tendência a preteri-lo a favor de um de menor dimensão. Chega-se a este tipo de questões através da sondagem constante que temos de fazer ao nosso público.
Nafría assinalou como importante o facto de as apps móveis estarem a ajudar a alcançar uma maior fidelização do utilizador que consome conteúdos informativos, em relação à obtida pelas páginas de Internet. E Bergareche indicou que o telemóvel devolve, de certa maneira, a intimidade que existia antigamente entre o leitor e o jornal.
Por último, de salientar o exemplo do The New York Times que, consciente da importância do smartphone, realizou uma campanha de consciencialização entre os seus funcionários em que os obrigava a trabalhar e a produzir conteúdos exclusivamente a partir dos seus telemóveis.